“Eu preciso ficar em minha casa e minha casa é a barraca!” – Famílias ciganas são expulsas de seus acampamentos no PR
Nos últimos dias temos assistido o acréscimo de pessoas contagiadas e vitimadas pelo COVID-19 . Medidas de proteção e cuidado com a humanidade têm sido apresentada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, dentre elas, a mais repercutida é o isolamento social. Em tempos de uma crise que assola o mundo é preciso cuidarmos uns dos outros. Infelizmente temos recebido denúncias de que famílias ciganas estão expostas a situações de maior vulnerabilidade.
Em um momento de total fragilidade, em meio a esta pandemia, temos notícias de que nas últimas 24 horas mais de 100 famílias ciganas foram desabrigadas nos municípios de Dois Vizinhos-PR e Guarapuava-PR. Com a presença de policiais e representantes das prefeituras de respectivos municípios, os chefes ciganos foram intimados a se retirarem com seus acampamentos dos territórios ocupados. É preciso enfatizar que estes municípios são locais de ‘pouso’ das famílias ciganas, não sendo a primeira vez que as famílias se encontravam nestas localidades. Agora estão sendo desabrigados e expostos a condições de alto risco, nesse crítico momento de saúde pública que atravessamos. A prática tomada pela polícia e representante locais constituem atos que vão de encontro ao Art 5º da Constituição Brasileira, que estabelece que todos os cidadãos são iguais perante a lei.
Se a regra é o isolamento social em suas residências, isso deve ser respeitado em relação às famílias ciganas, compreendendo que as barracas são seus lares, onde residem com suas crianças. Estas famílias não podem ser expostas à violência dessa maneira, expulsas de seus acampamentos e deixadas à própria sorte.
Vídeo encaminhado por um dos líderes do acampamento apresenta o seguinte diálogo ocorrido na tarde do dia 02 de abril de 2020, no estado do Paraná:
Policial:- (…) De agora em diante é com o senhor, o senhor tem a escolha de fazer tranquilo ou a gente fazer(…) a gente vai dar um tempo
Cigano: -E eu vou colocar aonde esse povo? Se fosse só eu, podia me levar, me prender.
Policial: -Não sei onde o senhor vai colocar (…) ou então assim, eu posso então encaminhar todos, todos os pais de família por esbulho possessório e ir para prisão, eu acho que pior.
Policial: Esbulho possessório! O senhor sabe, o senhor deve saber né? O senhor é entendido, o senhor deve saber o que se trata.
Cigano: Eu entendo minha senhora…
Policial: Entendeu? Tá bom! É esse o recado, tá? A gente vai dar um tempo aqui por senhor.
Cigano: Minha senhora…
Policial: Minha conversa é essa e acaba por aqui, ela acaba por aqui tá.
Cigano: Onde eu vou colocar minha família?
Policial: Meu trabalho é esse…
Solicitamos que as autoridades encaminhem medidas de proteção aos ciganos, para que esse tipo de violência pare de acontecer. A exemplo das nota técnica emitida pelo Ministério Público de Pernambuco, que cobra das autoridades a inclusão dos povos quilombolas, indígenas e ciganos nos Planos de Contingência dos Municípios.
Texto de Edilma do Nascimento J. Monteiro