Luto e luta por Bruno Pereira e Dom Phillips

18/06/2022 19:45

Nós do ARANDU/NEPI unimos nosso lamento e nossa revolta aos vários manifestos de indignação pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dominique Phillips. Abraçamos fortemente os familiares e amigos enlutados, envolvidos por um sentimento de tristeza e indignação que nos une e nos move a continuar lutando.

Quando os familiares denunciaram o seu desaparecimento, em 5 de junho, o presidente da República ousou pronunciar que haviam se embrenhado em uma “aventura perigosa na Amazônia”, no intuito de culpabilizar as vítimas pela violência sofrida. De fato, em seu governo, exercer as funções de servidores qualificados da FUNAI (e outros órgãos como ICMBio, IBAMA e INCRA), defender os direitos indígenas e ambientais, denunciar a exploração ilegal de madeira, garimpo, produtos da caça e pesca em sua articulação com o narcotráfico, apreender e destruir os instrumentos dessa exploração ilegal, tudo isso se tornou uma “aventura perigosa” e não o exercício de funções respaldadas e protegidas pela lei, como deveria ser.

Lembremos que a última ação de Bruno na FUNAI, quando ainda era coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato, e que levou à sua exoneração do cargo, em 2019, foi uma mega operação articulada com a Polícia Federal e Ibama, que destruiu 60 balsas de garimpo que atuavam ilegalmente na Terra Indígena do Vale do Javari. Lembremos também que, no mesmo ano, outro servidor da FUNAI, Maxciel Pereira dos Santos, quem chefiou, por cinco anos, o Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional do Vale do Javari, foi morto a tiros em Tabatinga. A família acredita que o crime, que segue impune, tenha sido uma retaliação pelo trabalho de fiscalização que Maxciel desenvolvia na região do Vale do Javari.

Em nota publicada em 15 de junho, quando o assassinato de Bruno e Dom foi confirmado, a UNIVAJA (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) afirma que “o caso não terminou”: “a UNIVAJA compreende que o assassinato de Pereira e Phillips constitui um crime político, pois ambos eram defensores dos Direitos Humanos e morreram desempenhando atividades em benefícios de nós, povos indígenas do Vale do Javari”. Informam ainda ter protocolado denúncias junto à FUNAI, MPF e PF desde o ano passado, informando a existência de uma quadrilha de pescadores profissionais vinculados à narcotraficantes, que continuam ameaçando a existência dos povos da região.

Associações indígenas e de apoio aos indígenas, como a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e a Opi-Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, continuam denunciando a omissão do governo brasileiro no combate às ações ilegais e na proteção de indígenas, servidores e colaboradores na região. Vejam também a nota da Associação Brasileira de Antropologia.

Também em 15 de junho, foi publicado o dossiê “FUNDAÇÃO ANTI-INDÍGENA: Um retrato da Funai sob o governo Bolsonaro“, fruto de monitoramento das ações da FUNAI no atual governo, elaborado em parceria entre a Indigenistas Associados (INA), associação de servidores da Funai fundada em 2017, e o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Fernando Viana, presidente da INA, no episódio de ontem (132) do blog e podcast #Fora da Política Não há Salvação, explica que não se trata somente de um desmonte da FUNAI, mas de uma nova composição que levou a instituição a operar como uma verdadeira Fundação Anti-Indígena.

Chamamos apoiadores para a manifestação da próxima quinta-feira: 

Paralisação Nacional e Ato Unificado contra o Marco Temporal
Data: 23/06, 5° feira
Horário: 16h
Local: Concentração no Largo da Alfândega
Organizadores: Condsef, Ansef e INA, APIB e organizações indígenas do país